Como fazer o alcoólatra reconhecer os próprios erros
- Vitor Marcelo Blazius
- 30 de mar. de 2023
- 5 min de leitura
Você já se perguntou por que algumas pessoas têm tanta dificuldade em aceitar que estão erradas? Talvez você já tenha vivenciado alguma dessas situações em que o alcoolista errou e não admitiu seu erro:
Faltar a compromissos importantes: O alcoolista pode ter dificuldade em admitir que faltou a um compromisso importante, como um evento familiar ou profissional. Como casamentos, formaturas e aniversários.
Negligência familiar: O alcoolista pode ter dificuldade em admitir que negligenciou sua família devido ao seu vício em álcool. Eles podem sentir que precisam esconder sua dependência de seus entes queridos para evitar julgamentos ou confrontos.
Dirigir após beber: O alcoolista pode ter dificuldade em admitir que dirigiu sob a influência de álcool e colocou sua vida e a de outras pessoas em perigo.
Ter chegado em casa bêbado e começado uma briga com o cônjuge ou filhos.
Ter gastado todo o dinheiro da família em bebida alcoólica e não assumir a responsabilidade pelos problemas financeiros resultantes.
Ter feito promessas de parar de beber ou de buscar tratamento, mas nunca seguir adiante com essas promessas.
Quando um alcoolista não admite o erro, os familiares podem experimentar uma ampla variedade de emoções. Algumas das emoções mais comuns incluem:
Frustração: Os familiares podem sentir que estão presos em um ciclo interminável de comportamentos destrutivos, onde o alcoolista comete um erro, nega-o e depois repete o comportamento novamente.
Tristeza: Aqueles que amam o alcoolista podem se sentir profundamente tristes ao ver alguém que eles amam se comportar de maneiras prejudiciais e auto-destrutivas.
Raiva: Os familiares podem sentir raiva do alcoolista por causa de seus erros, especialmente se esses erros tiverem consequências graves.
Desespero: Os familiares podem sentir que estão perdendo a batalha contra o alcoolismo e podem se sentir desesperados em relação à situação.
Culpa: Alguns familiares podem se sentir culpados, achando que poderiam ter feito mais para ajudar o alcoolista.
Essas emoções podem ser intensas e podem afetar significativamente o bem-estar emocional e mental dos familiares do alcoolista. É importante que eles encontrem maneiras saudáveis de lidar com essas emoções e com essas situações para poderem seguir cuidando de si e até fazer quem ama parar de beber.
Entender sobre o problema pode ser um primeiro passo.
Porque não admite seus erros?
O livro "Mistakes were made (but not by me): Why we justify foolish beliefs, bad decisions, and hurtful acts" (em português: "Erros foram cometidos (mas não por mim): por que justificamos crenças tolas, decisões ruins e atos prejudiciais") da psicóloga social Carol Tavris e do psicólogo social Elliot Aronson, apresenta uma análise fascinante sobre a forma como as pessoas se justificam quando cometem erros ou tomam decisões ruins.
Um dos principais aprendizados do estudo é que os seres humanos têm uma forte tendência a proteger suas autoimagens, a fim de manter uma sensação positiva de si mesmos. Para fazer isso, muitas vezes justificam seus erros ou decisões ruins, mesmo que isso signifique ignorar fatos ou informações objetivas.
Essa tendência é conhecida como dissonância cognitiva e é um processo psicológico complexo em que as pessoas buscam reduzir a tensão ou conflito entre suas crenças, valores e ações. Quando alguém percebe que suas ações estão em desacordo com suas crenças e valores, a dissonância cognitiva ocorre e as pessoas tendem a buscar justificativas para suas ações para reduzir a tensão que sentem.
No entanto a capacidade de admitir erros e falhas é fundamental para o crescimento e aprendizado pessoal e profissional. No entanto, muitas vezes as pessoas têm dificuldades em reconhecer e aceitar seus erros por causa de sua autoimagem positiva e da tendência à dissonância cognitiva.
Estudos como os de Davidson, R. J., & Begley, S. (2012). The emotional life of your brain. Penguin, mostram que a região do cérebro conhecida como amígdala, que desempenha um papel fundamental na resposta emocional, pode ser ativada quando somos confrontados com um erro. Isso pode levar a sentimentos de vergonha, culpa e medo, o que pode tornar difícil aceitar e lidar com o erro. No entanto, o córtex pré-frontal, que é responsável pelo pensamento racional e tomada de decisões, é essencial para superar essa resistência.
Há um estudo mais recente publicado em 2020 na revista científica PLoS One por Chavan et al. que examinou a relação entre a atividade cerebral e a aceitação de erros em indivíduos saudáveis. Os resultados sugerem que a aceitação de erros está relacionada com a atividade da rede neural envolvida no processamento de informações sobre conflito e controle de erros.
O uso excessivo de álcool pode prejudicar várias áreas do cérebro, incluindo a rede de controle executivo. Estudos mostram que o consumo crônico de álcool está associado a alterações estruturais e funcionais no córtex pré-frontal e no córtex cingulado anterior, áreas-chave dessa rede neural.
Como você, familiar, pode fazer ele encarar seus erros para realmente aprender com as experiência e evoluir em direção a parar de beber?
A boa notícia é que existem maneiras práticas e eficazes de abordar essa questão e ajudar o alcoólatra a reconhecer seus erros. E é sobre isso que eu quero conversar com você.
Um estudo publicado no Journal of Substance Abuse Treatment descobriu que indivíduos que receberam feedback não confrontacional foram mais propensos a reconhecer seus problemas com o álcool e a buscar ajuda em comparação com aqueles que receberam feedback confrontacional. [1] Outro estudo, publicado no Journal of Consulting and Clinical Psychology, descobriu que a abordagem não confrontacional levou a uma maior redução no consumo de álcool em comparação com a abordagem confrontacional. [2]
[1] Miller, W. R., & Rollnick, S. (2013). Motivational Interviewing: Helping People Change. Guilford Press.
[2] Monti, P. M., Colby, S. M., & O'Leary, T. A. (2001). Adolescents, alcohol, and substance abuse: reaching teens through brief interventions. Guilford Press.
Aqui vão algumas dicas que podem ajudar nessa situação:
Seja específico: É importante identificar comportamentos específicos do alcoólatra que estão causando problemas e que você quer confrontar. Em vez de fazer acusações genéricas, seja claro e específico sobre o que está incomodando você.
Seja descritivo, não julgador: Quando você estiver conversando com o alcoólatra sobre seus erros, evite usar linguagem julgadora ou crítica. Em vez disso, tente usar uma linguagem descritiva e objetiva para que o alcoólatra possa entender claramente o que você está falando.
Use "eu" em vez de "você": É importante evitar usar acusações e culpas, pois isso pode fazer com que o alcoólatra se sinta defensivo e resistente. Em vez disso, tente usar frases que comecem com "eu" e descrevam como você se sente ou como as ações do alcoólatra afetaram você.
Seja empático: Lembre-se de que o alcoólatra está lutando contra uma doença e pode estar passando por momentos difíceis. Tente demonstrar empatia e compaixão durante a conversa, e mostre que você está ali para ajudar e apoiar.
Ofereça ajuda: Em vez de apenas confrontar o alcoólatra com seus erros, ofereça ajuda e suporte para que ele possa se recuperar. Ofereça ajuda para encontrar um tratamento ou terapia, ou sugira participar de grupos de apoio para dependentes químicos.
Estabeleça limites saudáveis: É importante estabelecer limites saudáveis e proteger sua própria saúde e bem-estar. Se o alcoólatra não está disposto a mudar ou aceitar ajuda, pode ser necessário estabelecer limites claros e se afastar da situação para proteger sua própria saúde mental e emocional.
Lembre-se de que confrontar um alcoólatra com seus erros pode ser uma conversa difícil e que requer muita sensibilidade e empatia. Se possível, busque ajuda profissional de um profissional de saúde mental, psiquiatra ou psicólogo(a) que trabalhe com isso, para orientá-lo nessa conversa.
Jeito não muito eficaz | Jeito mais eficaz |
"Você é um alcoólatra e nunca muda, nunca pensa em como eu me sinto." | "Quando você bebe demais, eu me sinto triste e preocupado com você. Eu gostaria que pudéssemos conversar sobre isso." |
"Por que você sempre escolhe o álcool em vez de passar tempo com a família?" | "Eu sinto sua falta e gostaria de passar mais tempo com você. Você pode reduzir a quantidade de álcool que está bebendo para que possamos passar mais tempo juntos?" |
"Você está sempre bêbado e arruinando nossas comemorações familiares." | "Eu me preocupo com você e sinto sua falta quando você está bêbado em nossas comemorações familiares. Podemos conversar sobre como podemos tornar esses eventos mais agradáveis para todos?" |
"Você é uma vergonha para nossa família por causa de seu comportamento alcoólico." | "Eu amo você e me preocupo com seu bem-estar. Como posso ajudá-lo a lidar com seu consumo de álcool e melhorar seu relacionamento com a família?" |
"Não consigo acreditar que você continua bebendo depois de tudo o que aconteceu." | "Como tem sido para você tudo que tem acontecido? Acho que talvez a gente tenha perdido de vista que somos parceiros e que apoiamos um ao outro. O que você acha? Podemos conversar sobre como podemos trabalhar juntos para encontrar soluções?" |
Claro que essas são apenas algumas explicações iniciais.
No curso ACA eu ensino isso e muito mais com muita profundidade para que você consiga aplicar na vida de forma prática e fazer quem você ama parar de beber sem deixar de cuidar de si.
Mas enquanto não abrem novas vagas para o curso ACA, você quer saber um pouco mais?
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