O que acontece quando você tenta fazer quem você ama admitir que é um alcoólatra
- Vitor Marcelo Blazius
- 14 de abr. de 2021
- 6 min de leitura
Atualizado: 9 de mai. de 2021
Se você sofre por conta do alcoolismo de quem você ama, você nunca mais pode cair nessa armadilha, pois pode custar a sua paz e até mesmo a vida de quem você ama.
E calma, eu não quero te assustar. Eu só preciso ser enfático para esclarecer para você que existem mitos do alcoolismo que podem sugar a sua energia e te afastar do seu objetivo de que a pessoa que você ama fique sóbria.

Esse artigo é justamente para te ajudar a lidar com:
- Marido alcoólatra
- Esposa alcoólatra
- Filho alcoólatra
- Filha alcoólatra
- Ou qualquer pessoa que você ama e que bebe demais, para você entender melhor sobre como fazer essa pessoa parar de beber.
E esse mito nocivo e mal interpretado é de que o primeiro passo para alguém parar de beber é admitir que é um alcoólatra.
Sabe quando uma informação foi contada fora do contexto tantas vezes que perde o sentido?
É exatamente o caso aqui. Fazer quem você ama admitir que é um alcoólatra é um mito!
Ele não precisa admitir que é um alcoólatra para parar de beber. Ele precisa apenas ter interesse em ficar sóbrio.
É justamente quando você lida com o alcoolista do jeito certo, que você vai criar esse interesse nele em parar de beber. E com isso ele pode ou não admitir que tem um problema com álcool. Muita gente para de beber e quando você pergunta porque a pessoa parou ela não diz que é porque era alcoólatra. Muitos respondem simplesmente que não querem mais beber, que acham melhor ficar sem beber.
E eu não estou aqui só para dizer minha opinião. Um compromisso meu aqui com você é trazer as informações de qualidade e você é quem vai julgar e escolher em que acreditar.
Então deixa eu te mostrar o que dizem pesquisas científicas sobre isso.
Várias pesquisas mostram que admitir que é alcoólatra não é um fator que está relacionado a parar de beber. (Lemere, O´Hollaren & Maxwell, 1958; Trice, 1957).
Perceba como é claro isso se você olhar e refletir sobre isso. Muita gente admite que é alcoólatra e usa essa informação justamente como desculpa para seguir bebendo e não se esforçar para parar de beber.
E mais que isso. Já está comprovado também que forçar alguém a admitir que é alcoólatra piora as chances dele parar de beber. E até mesmo que quando você fica tentando forçar quem você ama a admitir que é alcoólatra faz ele piorar e querer beber mais ainda (Orford, 1973).
Existem vários motivos para isso, motivos relacionados a natureza da mente humana. E vou falar mais sobre isso em outras postagens mas aqui eu quero te explicar de uma forma simples para que fique claro para você e que isso te ajude a acelerar seu caminho de fazer quem você ama parar de beber.
E eu vou aqui falar para você sobre duas hipóteses do porque é desagradável e improdutivo tentar fazer quem você ama admitir que é alcoólatra:
1) Ninguém quer ser rotulado como algo que as pessoas tem tanto preconceito.
A ideia de ser um alcoólatra, apesar de ser uma doença mental, por conta da desinformação da maioria das pessoas, traz consigo um peso socialmente negativo por conta do preconceito. Muitas pessoas associam erroneamente esse tipo de doença com falha de caráter, com egoísmo, com fraqueza moral. Ou até mesmo imaginam que um alcoólatra é aquela pessoa que vive embriagado 24 horas por dia, que não tem trabalho, que não tem emprego, que está num estágio terminal.
2) É um luto descobrir uma limitação ou uma doença.
Para qualquer pessoa, descobrir e reconhecer plenamente que possui uma doença grave é difícil. Existe um processo emocional de luto. Não é uma informação qualquer. Há uma sensação de perda muito grande. E ocorre um estágio de choque e negação, como com qualquer outra grande má notícia, como proposto por Kübler-Ross (1994). (Só para ilustrar os estágios descritos pelos autores citados: Negação, raiva, negociação, tristeza e aceitação).
O que eu quero dizer com isso é que reconhecer que está com um problema grave, com grandes limitações e impactos negativos para si e para os outros, como o alcoolismo, não é uma informação "fácil de engolir". E informações assim precisam ser enviadas ou comunicadas de formas produtivas. Confrontar o alcoolista fazendo ele admitir é o oposto disso. É justamente tornar mais penoso e as vezes até impossível o processo de fazer ele reconhecer as próprias dificuldades e a necessidade da própria mudança.
a maioria das pessoas significativas da vida do alcoolista, quando vai tentar ajudá-lo, acaba justamente piorando a situação quando tenta forçar ele a admitir
E é porque a maioria das pessoas significativas da vida do alcoolista, quando vai tentar ajudá-lo, acaba justamente piorando a situação quando tenta forçar ele a admitir. O que causa mais resistência nele em mudar como você já entendeu e que ainda frustra muito o familiar.
Porque a expectativa de que fazer o alcoolista admitir é o primeiro passo para ele parar de beber acaba não se concretizando.
E qual passa a ser a compreensão do familiar?
Você acha que o normal é o familiar aceitar que abordou o alcoolista do jeito errado ou que o problema é que o alcoolista é um "egoísta" que "não se importa com ninguém" e que "não liga para nada"?
O típico é qualquer pessoa achar que o problema é o outro! E a crença de que fazer admitir é o primeiro passo para parar de beber vai, dessa forma, matando milhares de pessoas e destruindo milhares de famílias pelo mundo todo.
No fim das contas você acaba sendo vítima dessas informações erradas. E quando se trata de alcoolismo na sua família a desinformação pode e muitas vezes é fatal.
"Mas, Vitor, se isso é tão perigoso e tão comprovado cientificamente como errado, como esse mito ainda pode existir e ser tão popular?"
Os motivos são vários. Mas eu quero antes de tudo, expressar um profundo respeito por uma das instituições que divulga essa informação num contexto particular e diferenciar isso do que eu estou tratando neste artigo.
Os Alcoólicos Anônimos tem como o primeiro dos 12 passos para a sobriedade, este:
1. Admitimos que éramos impotentes perante o álcool - que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas.
E você me pergunta: "Vitor, você acha que isso está errado?" E eu te respondo. Não acho que isso está errado. O meu compromisso é com o que funciona. E se isso funciona para eles, tá tudo certo para mim.
"Agora você está se contradizendo, Vitor! Fiquei confuso!"
Não há contradição no que estou dizendo. Peço sua atenção agora. Os alcoólicos anônimos são uma entidade antiga que prega um caminho que funcionou para eles. E eles oferecem grupos de ajuda mútua para alcoolistas que desejam apoio não profissional para parar de beber. E eu não vejo problema algum nisso. E a ciência mostra que quem frequenta reuniões de AA tem mais chance de ficar e permanecer sóbrio. Isso não significa que serve para todos.
E isso não significa que admitir que é alcoólatra é o melhor caminho para todos.
Inclusive não é o melhor caminho para todos. Como eu te mostrei nas pesquisas científicas acima.
Admitir que é alcoólatra com autonomia e com a intenção, com a justificativa de parar de beber por perceber e reconhecer que para ter uma vida valiosa para e permanecer sóbrio pode ser ótimo!
Leia bem, eu disse justificativa e não desculpa. Isso é muito diferente.
Justificativa é aquilo que usamos para justificar uma ação positiva.
Desculpa é aquela mentira que uma pessoa conta para si para não ter uma ação positiva.
O problema está na estratégia para fazer o alcoolista reconhecer não o rótulo, mas sim a necessidade de mudança.
Você, familiar, confrontar e tentar obrigar o alcoolista que você ama a se rotular dessa forma atrapalha vocês dois.
Se quem você ama precisa parar de beber e não fez isso ainda, isso só significa que você acordou primeiro para a necessidade de mudança. E é isso que ocorre na maioria das famílias.
E se você aproveitar que você percebeu essa necessidade de mudança nele(a) antes, você só precisa aprender como fazer ele parar de beber. Como fez a "Zélia" que fez o esposo parar de beber pela primeira vez após 36 anos de casamento).
O foco precisa estar na solução, na necessidade de mudança, na responsabilidade, na qualidade do relacionamento, nos interesses que o alcoolista tem mas que estão sendo atrapalhados pelo álcool. Ele não precisa admitir, ele precisa querer parar de beber. E esse desejo de parar de beber, sofre uma forte influência das suas atitudes. Basta você usar os estímulos certos para plantar as sementes da sobriedade.
E se você quiser entender melhor sobre essa assunto, eu gravei um episódio do Podcast ACA só sobre isso:
E agora ao ler isso, qual foi sua reação? Não acreditou? Ficou com mais esperança? Sentiu raiva? Barganha? Tristeza? Aceitação? (hehehe!) As vezes é um luto para quem tá começando a me acompanhar, para fazer essa virada de chave na mentalidade. E eu sei que essa informação pode ser um pílula amarga para algumas pessoas, porque é mais prazeroso a gente perceber nossos acertos do que enxergar possíveis erros. Mas é olhando para o que a gente pode estar fazendo de errado para corrigir nossas ações, que podemos conquistar uma vida melhor para nós e para que amamos. Pelo menos é nisso que eu acredito.
E aí, você já acreditou nessa história? Já tentou forçar quem você ama a admitir que é alcoólatra? Deixe seu comentário abaixo.
Assumir que é alcoólatra e difícil,mais eu por exemplo não imponha isto para meu marido,só peço pra ele ver oque de coisas e momentos ruim ele estando alcoolizado causa na vida dele e de nos familiares.
Depois que eu comecei a te ouvir, dr. Vitor, o meu marido tem melhorado muito através da minha transformação. Obrigada 🥰